No passado quando a vida era mais simples era mais evidente que pessoas eram diferentes e que tinham resultados diferentes. Uma pessoa poderia ser um bom fazendeiro e um péssimo sapateiro, ou vice versa. E ninguém via problema nas pessoas serem diferentes.
Assim surgiu a meritocracia, que quer dizer colocar no cargo quem é mais apto a ele. Se você é um bom fazendeiro, vai trabalhar na fazenda, se é um bom sapateiro, na sapataria, assim teríamos uma sociedade melhor. Pois por exemplo, você quer ser atendido por um bom médico ou por um médico que se esforçou muito mas não é bom?
Com a revolução industrial, o trabalho se tornou mecanizado e as aptidões não importavam tanto, uma pessoa que sabia costurar poderia fazer um sapato melhor que qualquer sapateiro pois este é feito em uma máquina por várias pessoas, assim você só precisa saber pregar o botão com uma máquina e nada mais.
As pessoas passaram a receber um salário igual (embora baixo) e o que faziam não importava tanto assim no resultado final. Assim a ideologia de que “somos todos iguais e merecemos o mesmo (um salário merreca)” ganhou força. Mesmo que continuássemos diferentes como sempre.
No entanto neste período também aumentou a diferença de ganho entre algumas pessoas que faziam trabalho especializado.
Então para não dizer que existem pessoas “especiais” (ou seja especialistas) a meritocracia adotou o discurso que “todos somos iguais, se você se esforçar consegue pelos seus méritos ficar rico.” O que é uma grande bobagem, pessoas são diferentes e em funções que requerem especificidade tem resultados diferentes.
Devemos ter todos os mesmos resultados?
Uma coisa que nunca se pergunta quando se fala sobre isto, e que ficou esquecida, pois o lema de “somos todos iguais” se tornou discurso único é:
Queremos todos as mesmas coisas?
Em uma sociedade massificada em que todos são iguais, sim. Mas em uma sociedade plural e real não.
Uma pessoa pode querer trabalhar mais para ter uma televisão melhor enquanto outra pode preferir trabalhar menos e ter mais tempo livre para assistir televisão mesmo que esta seja de pior qualidade.
Assim se confunde igualdade de oportunidade com igualdade de resultados pois deixou-se de ver que as pessoas são diferentes e nem sempre querem os mesmos resultados para um discurso onde todos são iguais e querem ficar ricos mas não tem a mesma oportunidade.
O que há de errado na desigualdade?
Pessoas que partem de pontos distintos terão que fazer esforços distintos para chegar a um mesmo ponto.
Mas na vida não temos um único ponto, e o ponto que pode estar mais perto de você pode estar mais longe de mim mas existe outro ponto que está mais perto de mim que de você.
Deste modo devemos escolher qual ponto queremos e quanto estamos dispostos a nos sacrificar para chegarmos lá.
O problema não é a desigualdade pois cada um damos importância maior ou menor aos diversos pontos da vida. Uns preferem família, outros preferem se arriscar e sair para o mundo. Uns gostam de trabalhar e ter dinheiro para gastar em coisas, outros preferem trabalhar menos e ter mais tempo livre para eles mesmos.
O problema é a pobreza. Qual o problema em sermos desiguais mas se todos temos pelo menos o básico para sobreviver? O problema não é a pobreza que deixa todos iguais e todos sem uma perspectiva de vida? Qual o problema de uma pessoa ter 10 carros se eu tenho 1 mas este 1 me leva onde eu quero?